O vento


E o vento soprou, soprou
Na folha da palmeira
Levantou a saia branca
Da menina festeira
Afinou o som vibrante
Com o da ave aventureira
Fez cair o chapéu novo
Da cabeça pensadeira
Sacudiu o pó do chão
Misturou na corredeira
Refrescou aquela idéia
Esquecida por besteira
Vento sopra na ribeira
Leva nuvem passageira
Leva dor que amarra a gente
Leva fogo e brincadeira
Leva até amor embora
Leva uma vida inteira
Sopra vento forte agora
Uiva feito quebradeira
Passa louco pelas ruas
Derrubando casa e feira
Chama a chuva e a trovoada
Vai embora assim do nada
Soprando...

AL/2009

Yamandu Costa - Flamengo

O abraço


Prisioneiro das palavras
Perdes tempo em arrumá-las
Temes tanto o que exala
Faz soar o que resvala
No final de nada servem...
Muito mais alcance
Tem o teu abraço

AL/2007

Yamandu - Chorando por amizade

A bruxa e o cozinheiro

Esquisita toda bruxa é, mas a essa não cabia alusão. Cara de bruxa tinha. Nariz empinado, olhos de fogo e cabelo espigado. A boca,... Escondia uma língua tão comprida que vivia enrolada. Difícil entender o tanto que ela falava. As orelhas, não vi não. Escutava é com o coração. Esdrúxula!
De casa não precisava. Vivia revolvendo a terra, voando entre as nuvens, mergulhando em águas profundas e saltando labaredas. Se metia em vida alheia inventando solução, mas como não cozinhava, não preparava uma porção...! Onde já se viu? Tinha uns dedos tão compridos que pareciam umas agulhas. Quando espetavam qualquer corpo, saia um monte de fagulha. Devia ser o tal veneno... Isso quando não arrotava velhos gases em trovoada fazendo mexer na gente vísceras e idéias bizarras. Que nojo!
Mas um dia essa bruxa tão esperta e atrapalhada, caiu da vassoura... Que cilada!
Como sempre, procurando confusão, se meteu em uma briga num seminário de assombração. Fizeram chacota dela porque não tinha um caldeirão. Ficou tão enfadada que usou feitiço novo nunca antes ensaiado transformando os presentes em ursos, macacos e serpentes. Saiu bufando descontrolada arrastando sua vassoura pelos ares e anunciou nas páginas do céu com estrelas combinadas que buscava um chefe cozinheiro para lhe ensinar todos os segredos do fogão. Mas o tempo se arrastava e não aparecia nada não...
Quando um dia mergulhava num oceano turbulento, viu passar um cozinheiro revestido de algas claras, nadando tranqüilo na correnteza. Tinha um saco escondido com algumas espécies raras debaixo de um caracol que usava na cabeça. E um olhar de azul calmante que mirava bem distante.
A bruxa ficou sem ar diante daquela estranheza! E não fossem os seus poderes, morreria afogada em sua própria natureza. Bem feito!
Usou uma voz suave para chamar a atenção, mas o lindo cozinheiro só estava interessado em sua nova criação: Sopa de ouriço com saliva de tubarão. Uma entrada exuberante para uma festa muito importante.
A bruxa tentou de tudo. Até dançou um tango com a vassoura em meio a um cardume de salmão, mas o sábio cozinheiro continuou o seu trabalho sem qualquer hesitação.
Finalmente já cansada foi dormir em terra firme ao lado de um canteiro de especiarias. Fez uma cama de arruda e camomila e esperou raiar o dia.
E não é que outra vez o cozinheiro apareceu! Parecia que o destino é quem queria brincar com aquela bruxa que de tudo já viveu.
O galante mestre-cuca escolheu umas tantas ervas enquanto assobiava uma velha canção francesa que ninguém mais se lembrava. A bruxa deslumbrada acompanhou com sua voz mais afinada e finalmente o cozinheiro cruzou sua mirada. Foi paixão, não tenho dúvida. Dessas que morde e mata. E traçando muitos caminhos, levaram na mesma bagagem sonhos, segredos e coragem.
Depois de muita aventura buscaram vida abrigada e na cabana inventada tinha cama, colchão e almofada. Panelas de todo tamanho, pratos, facas e alguns panos e um sem fim de convidados vindos de todos os lados querendo provar um bocado.
A bruxa nunca aprendeu a mexer o caldeirão que dirá a preparar qualquer tipo de porção. Isso não mais lhe importava. Fazia seu bem amado com um pouco de magia que ela mesma lhe ensinara. Uma troca mais que justa para quem sabe ser bruxa.
De uma bruxa e um cozinheiro tenham todos bem cuidado! Não abusem da comida nem dos dedos afilados! Entre uma sopa e um guisado, entre um peixe e um flambado alguém sai enfeitiçado. E se a lua invejosa rouba o brilho das estrelas desfilando toda cheia, pode ir logo preparando muita erva e infusão pra lutar contra o feitiço dessa dupla armação. Já vi gente virar bicho, gato brincando com leão e até orelha humana fervendo no caldeirão! Essa dupla não é mole não!
E agora eles têm cria! Sangue e veneno misturados. Será bruxa ou cozinheira a menina prazenteira? Eu diria uma fada rara dessas com imaginação que vai soprar muitas estórias em bolinhas de sabão...

AL/2009

La bruja y el cocinero


Para Wanda, Sophie y Michel

Toda bruja es rara, pero a esa no le cabía comparación. Cara de bruja tenía. Nariz empinada, ojos de fuego y cabello erizado. La boca... ocultaba una lengua tan larga que vivía enroscada. Difícil era entender lo que ella hablaba. En las orejas, tenía un tapón. Escuchaba con el corazón. ¡Esdrújula!
Casa no precisaba. Vivía revolviendo la tierra, volando entre las nubes, buceando en aguas profundas y cruzando relámpagos. Se metía en la vida ajena inventando soluciones, pero como no cocinaba, ¡no preparaba pociones...! ¿Lo puedes creer?
Tenía unos dedos tan largos que parecían unas agujas. Cuando pinchaba un cuerpo, hacía salir un montón de burbujas. Debía ser el tal veneno... Eso cuando no provocaba viejos gases que tronaban revolviendo en la gente vísceras e ideas gallardas. ¡Que asco!
Mas un día esa bruja tan apuesta y embustera se cayó de la escoba...
Como siempre, buscando confusión, se metió en una pelea en un taller de aparición. Se burlaron de ella porque no tenía un calderón. Quedó tan enfadada que usó hechizo nuevo nunca antes ensayado transformando a los presentes en osos, macacos y serpientes. Salió bufando descontrolada arrastrando su escoba por los aires y anunció en las páginas del cielo con estrellas combinadas que buscaba un chef cocinero para enseñarle todos los secretos del fogón.
Mas el tiempo se arrastraba y no aparecía nada...
Mientras estaba buceando un día en un océano turbulento, vio pasar un cocinero revestido de algas claras, nadando tranquilo en la corriente. Tenía un bolso escondido con algunas especies raras debajo de un caracol que usaba en la cabeza. Y unos ojos azul calmante que miraban muy distantes.
¡La bruja se quedó sin aire delante de aquella rareza! Y si no fuera por sus poderes, hubiera muerto ahogada en su propia naturaleza. ¡Bien hecho!
Empleó una voz suave para llamar la atención, pero el guapo cocinero solo estaba interesado en su nueva creación: Sopa de erizo con saliva de tiburón. Una entrada exuberante para una fiesta muy importante.
La bruja intentó de todo. Hasta bailó un tango con la escoba en el medio de un cardumen de salmón, pero el sabio cocinero continuó su trabajo sin ninguna hesitación.
Finalmente ya cansada, fue a dormir en tierra firme al lado de un cantero de especias. Hizo una cama de ruda y manzanilla y esperó que llegara el día.
¡Y no resulta que otra vez el cocinero apareció! Parecía que el destino quería jugar con aquella bruja que de todo ya vivió.
El galante maestre guisandero eligió unas cuantas hierbas mientras silbaba una vieja canción francesa que nadie más recordaba. La bruja deslumbrada lo acompañó con su voz más afinada y así, finalmente, el cocinero cruzó su mirada. Fue pasión, no tengo duda. De esas que muerden y matan. Y trazando otros caminos, llevaron en el mismo equipaje sueños, secretos y coraje.
Después de raras aventuras buscaron vida abrigada y en la cabaña inventada tenían cama, colchón y almohada. Ollas de todo tamaño, platos, cuchillos y algunos paños. Y un montón de invitados venidos de todos lados queriendo probar un bocado.
La bruja nunca aprendió a revolver el calderón. Ni siquiera prepara una simple poción. Pero eso no le importa ni una cuchara. Lo hace su “xuxu” amado con un poco de magia que ella misma le enseñara. Una permuta más que justa para quien sabe ser bruja.
¡De una bruja y un cocinero tengan todos mucho cuidado! ¡No abusen de la comida ni de los dedos afilados! Entre una sopa y un guisado, entre un pescado y un flambeado, alguien sale hechizado. Y si la luna envidiosa roba el brillo de las estrellas desfilando toda llena, ponte rápido las botas y prepara una infusión para luchar contra el erizo de esa dupla de listos.
¡Ya vi gente convirtiéndose en animal, gato jugar con león y hasta oreja humana hirviendo en el calderón! ¡Que dupla, che!
Y ahora gente mía ellos tiene una cría! Sangre y veneno mesclados. Será bruja ó cocinera la niña placentera?
Yo diría una hada rara de esas con imaginación que va soplar muchas leyendas en burbujas de jabón...

AL/2009

Tradución: Diana Gamarnik

Perguntas


Pergunto para que
Se o quê ta escondido
E o quê que não pergunto
É o que já sei contido
Melhor não pergunto nada
Porque do nada vem o pedido
Do quê que quer pergunta
Pra tudo o que duvido
E o que quero é saber
Por que sempre pergunto
O que não tem resposta

AL/2007

Waldir Azevedo - Brasileirinho

Tentame


Ensaio o tom
Que rompe o muro
Azul profundo
Falso eco no instante
Em que as notas juntas
Revelam ser
Uma nota só
Soa surdo desafino
Entre o todo e o pedaço
De um sopro sem espaço
E uma corda que se rompe
Leva a dor em profusão

AL/2009

Manuel de falla- El amor brujo- 5.A Medianoche. Los Sortilegios

Perigo

Pisca a luz insistente
Fora e dentro alucinada
Uma barreira avisando
Outra travando entrada
E o perigo esperando
Distraído que resvala
Ou qualquer outro metido
Que não tem medo de nada

AL/2007

O. Silveira e E. Salles - Perigoso