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Maria Inês fez todo o percurso sonhando o novo enquanto olhava pela janela suja, a vida que logo iria abandonar.
Chegando à recepção Olga preencheu metade do formulário com dados falsos. Esperaram horas até que lhes serviram um lanchinho e lhes ofereceram uma pequena sala onde Maria Inês pudesse ser preparada para a apresentação.
Uma senhora de voz estridente e cabelo de espantalho moderno, apareceu por fim para acompanhá-las ao palco não sem antes repetir mil e uma recomendações totalmente desnecessárias já que ninguém a escutava. O nervoso era intenso e contagiante como toda praga exterminadora.
Mas para admiração de todos, Maria Inês foi a única que ao entrar no palco parecia estar em sua própria casa, ou melhor, futura casa.
Pensou nos seus amigos, o sapo e a barata. Como estariam orgulhosos dela nesse momento!
Respondeu com firmeza todas as perguntas ridículas do apresentador e, quando esse se satisfez, deu-lhe o sinal para começar.
Maria Inês olhou tudo e todos à sua volta, repirou fundo e começou o seu conto.
Enquanto dançava e gesticulava ao som da sua própria voz, as palavras inventadas iam impregnando e riscando o palco com o seu personagem.
Ao final de três exatos minutos, o seu conto já era realidade e as pessoas ali presentes custaram a acrditar no que acabavam de ver. Até a própria Olga estava hipnotizada pela criação da filha.
O apresentador e os organizadores imediatamente começaram a tomar as providências para ter a participação da garota no programa daquela mesma tarde.
Foi um alvoroço, pois não é sempre que uma oportunidade assim aparece para “enriquecer” um programa medíocre de domingo.
As atenções foram redobradas. Paparicos e mimos despejados por todos os lados. Comidas, bebidas, chocolates, maquiagem, penteado e até fotos! Era a glória... Maria Inês sabia. Sempre soube.