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Na chamada do programa foi anunciada uma atração especial. Um verdadeiro talento descoberto pelos organizadores. Uma artista completa e autêntica.
Antes fizeram Olga assinar um contrato de exclusividade em troca de uma quantia, para elas, transformadora.
Mãe e filha poderiam agora compartilhar uma vida de conforto, sucesso e felicidade. Parecia sonho. Mas era a pura realidade, que às vezes nos faz também flutuar.
Maria Inês ocupou quase metade do tempo do programa com sua inebriante apresentação não sem antes passar pelo interrogatório desconcertante do apresentador estrela decadente.
Ao final, o sucesso tinha realmente um lugar seguro. Acabava de surgir ali, uma magnífica estrela cintilante que nem os holofotes e flashes das câmeras conseguiam ofuscar.
Entrevistas e combinações se intercalaram até o começo da noite quando finalmente permitiram que mãe e filha fossem descansar. O dia seguinte seria ainda mais cansativo.
Voltaram para a sala onde antes tinham sido preparadas, abraçadas e envolvidas por uma nuvem de sonhos bons. Mãe e filha já não se estranhavam. E o pacto da dor foi rapidamente desfeito.
Foi ai que o destino apareceu para arrematar o conto com um pouco de verdade.
Um curto-circuito sem aparente importância transformou em poucos instantes, todo aquele estúdio e os que ali estavam em pura cinza. Um fogo abrasador e uma fumaça sufocante não permitiram que Maria Inês e Olga continuassem aquele conto.
Por dias ainda se ouviu nos meios de comunicação divagações sobre a tragédia que havia adiantado a morte de tantas pessoas. Mas nada causou mais revolta que o triste fim de Maria Inês.
Na realidade o que comovia e entristecia as pessoas era o fim do sonho não vivido nelas mesmas, porque Maria Inês essa sim viveu o dela o quanto durou.
Se existe qualquer coisa de bom na morte, deve ser o que ela nos faz refletir sobre a vida.
E se a morte é realmente transformação... Chapeau Maria Inês!


AL/2008