Soprando velas


Estavam todos em volta da mesa enfeitada com bonecos coloridos, doces e um bolo enorme em forma de espaçonave.
Apagaram-se as luzes, e sete velas foram acesas. E atrás delas o menino mantinha os olhos fixos e a cara envergonhada enquanto todos cantavam desejando felicidades, muitos anos de vida e estas coisas de sempre.
Ao final e sem fazer nenhum pedido, soprou as velas, cortou uma fatia do bolo e ofereceu ao seu melhor amigo. O que estava mais próximo gritando ao seu ouvido e roubando os brigadeiros.
Odiava essa comemoração tola onde a única coisa boa era esperar a hora em que todos se fossem para poder abrir os presentes.
Durante toda a festa brincou desanimado com os primos e amigos e resistiu com humor às inevitáveis provocações dos mais chatos.
E quando finalmente se foram empanturrados de bolo, brigadeiro, pãozinho e refrigerante, fechou-se no quarto com seus presentes. Não eram muitos, mas cada um vinha com o gosto saboroso da surpresa, que ia aumentando à medida que rasgava vorazmente os papéis coloridos.
Jogos, livros, bola de futebol, e coisas menos interessantes... Roupas, meias e uma bendita caneca de porcelana. Até que de repente, escondido em um pacote, encontrou um pequeno envelope estampado com corações e beijos de batom. Isso o deixou ainda mais corado que na hora de apagar as velas. Seu corpo transpirou inteiro com o movimento frenético do seu coração.
Abriu e de tão nervoso começou a ler trocando as letras e as palavras. Teve de reler umas três vezes até entender aquela simples mensagem anônima...
Essa noite pedirei
À estrela mais brilhante
Um beijo de amor
Do aniversariante
Escondeu o bilhete com outros tantos segredos e passou a noite imaginando como iria enfrentar o mundo na manhã seguinte. Mas para sua surpresa os dias foram passando normalmente e o menino, ainda por muitos anos, festejou seu aniversário.
Na hora de apagar as velas que se somavam, sempre apertava os olhos e se concentrava apenas naquele envelope estampado com corações e beijos de batom.


AL/2007