Era uma doida, uma espécie de monstro, de bicho-papão, uma bruxa, sei lá, não me lembro bem.
Só lembro que tinha muito medo dela desde muito pequenininha na casa da minha vó.
Minha mãe costurava no quarto dos fundos. Minha vó vivia na cozinha pondo lenha no fogão e água prá coar café bem doçe.
E a Climera vivia nas minhas noites de pavor. De dia ela caminhava pelas ruas cantando e rindo muito, fazendo as crianças correrem para dentro de casa.
Alguns meninos mais atrevidos atiravam pedras do portão deixando Climera furiosa. Acho que era nessa hora que ela se transformava em não sei quê e comia as crianças. Qualquer uma.
Mas ela nunca conseguiu me pegar, pois eu vivia muito bem protegida pelas mulheres lá de casa. Bastava um grito da minha vó, que Climera sumia dando gargalhadas. Acho que ela morria de medo da minha vó.
Mas um dia foi por pouco...
Naquela época, casa de porta trancada era sinal de abandono ou de gente muito metida. Portanto, muito natural que todos entrassem depois de uma ou duas palmas acompanhadas do refrão “ô de casa...” Alguns entravam primeiro... E depois batiam palmas.
Eu estava brincando com os retalhos de costura da minha mãe enquanto ela terminava com capricho, mais um lindo vestido para mim.
De repente... , entrou Climera. Pegou um pedaço de renda, cobriu o rosto e se debruçou sobre mim gritando: - vou te comer!
É claro que meu coração parou e minha respiração também.
Minha mãe me tomou no colo e enxotou Climera com grito de ódio. E aí eu chorei muito.
Não me lembro do rosto da Climera. Talvéz ela fosse bem bonita. Talvéz ela fosse triste, e tivesse pavor de escuro, e vai ver até gostava de brincar com formigas. Mas parece que só aprendeu a brincar de assustar.
Ainda bem que ela sorria muito. E do seu sorriso eu nunca esqueci.
Não tenho mais medo dela, mas, às vêzes, ainda sinto aquela falta de ar.
AL/2003
Só lembro que tinha muito medo dela desde muito pequenininha na casa da minha vó.
Minha mãe costurava no quarto dos fundos. Minha vó vivia na cozinha pondo lenha no fogão e água prá coar café bem doçe.
E a Climera vivia nas minhas noites de pavor. De dia ela caminhava pelas ruas cantando e rindo muito, fazendo as crianças correrem para dentro de casa.
Alguns meninos mais atrevidos atiravam pedras do portão deixando Climera furiosa. Acho que era nessa hora que ela se transformava em não sei quê e comia as crianças. Qualquer uma.
Mas ela nunca conseguiu me pegar, pois eu vivia muito bem protegida pelas mulheres lá de casa. Bastava um grito da minha vó, que Climera sumia dando gargalhadas. Acho que ela morria de medo da minha vó.
Mas um dia foi por pouco...
Naquela época, casa de porta trancada era sinal de abandono ou de gente muito metida. Portanto, muito natural que todos entrassem depois de uma ou duas palmas acompanhadas do refrão “ô de casa...” Alguns entravam primeiro... E depois batiam palmas.
Eu estava brincando com os retalhos de costura da minha mãe enquanto ela terminava com capricho, mais um lindo vestido para mim.
De repente... , entrou Climera. Pegou um pedaço de renda, cobriu o rosto e se debruçou sobre mim gritando: - vou te comer!
É claro que meu coração parou e minha respiração também.
Minha mãe me tomou no colo e enxotou Climera com grito de ódio. E aí eu chorei muito.
Não me lembro do rosto da Climera. Talvéz ela fosse bem bonita. Talvéz ela fosse triste, e tivesse pavor de escuro, e vai ver até gostava de brincar com formigas. Mas parece que só aprendeu a brincar de assustar.
Ainda bem que ela sorria muito. E do seu sorriso eu nunca esqueci.
Não tenho mais medo dela, mas, às vêzes, ainda sinto aquela falta de ar.
AL/2003