Levantou-se antes do sol com o corpo ainda tênue e, sem fazer muito ruído, vestiu-se desatento enquanto bebia o café requentado. Colocou na bolsa um pouco de comida e água, tomou a espingarda e saiu sem se despedir dos seus.
Montou seu velho cavalo que já o aguardava ciente do caminho a fazer e em silencio seguiram as trilhas descobertas por ambos, observando os animais que trocavam de turno à medida que o sol ia fazendo viver o dia.
Nesse momento de alvoroço, onde tantos hábitos se confrontam, o caçador tem mais chance de agarrar a sua presa. E lá vinha ela com o corpo ainda tênue, sem fazer muito ruído. Desatenta, parou para beber água no riacho parco sem perceber o caçador que a perseguia com os olhos fixos , a respiração controlada e o dedo no gatilho.
Porém quando a presa o fitou com aquele olhar inocente e assustado típico de todas as vítimas, seu coração disparou fazendo tremer a mão ora firme e nublando totalmente a visão certeira.
Baixou a arma vencido, buscou um pouco de comida e a ofereceu com distância. Trocaram novamente um olhar breve para não abrandar a desconfiança indispensável a sobrevivência de ambos. Montou seu velho cavalo e voltou para casa descobrindo novas trilhas. Deixando para traz sua presa,ainda livre.
AL/2007