A notícia inesperada era de que iríamos mudar de cidade sem entendermos ao certo por que. Meus pais não tinham muito tempo para ficar dando explicações a três crianças curiosas e perguntadeiras. Tudo teria de ser organizado com rapidez. Sem espaço para despedidas e pensamentos inquietantes.
Partimos sabendo apenas que viveríamos em uma cidade pequena às margens do rio São Francisco, irmã de outra que se encontrava do outro lado nem tão oposto, separadas pelo rio, mas unidas por uma grande ponte.
Na bagagem muita angústia e medo do desconhecido além de móveis e utensílios, que demoraram o mesmo tempo que nós para se acomodarem ao novo espaço que lhes foi concedido. Tudo muito diferente da vida tida confortável e novidadeira de uma capital.
A nova morada era na esquina mais movimentada do bairro e logo tivemos de perfilhar e acolher todos os ruídos que adentravam pelas tantas janelas de madeira protegidas com grades rendadas, disfarçando a visão das coisas prosaicas que desfilavam do lado de fora.
Os quartos eram todos eles interligados por grandes portas duplas guardando a intimidade, mas não separando totalmente os vínculos. Isso nos confortava durante a noite densa e abrasadora.
Sequer tivemos muitos dias para disfarçar a realidade como se fora apenas uma nova brincadeira. O colégio esperava-me do outro lado do rio com seus pátios frios e inibidores para que eu fosse exibida sem nenhum pudor.
O único prazer nas madrugadas pouco frescas era, a caminho do colégio, atravessar a sólida ponte partidária com o sol ainda sonolento e o céu pintado em vários tons alaranjados que cintilavam nas águas calmas e bucólicas do rio.
A cidade vizinha parecia ser mais bonita e atraente certamente por estar a pouca distância dos olhos e do coração, e ter as margens sempre claras e expostas.
Na volta de um dia desgastante por tantos ajustamentos, novamente era a ponte que me confortava ensinando-me o valor das trocas possíveis entre vidas diferentes e visivelmente separadas.
Depois de muitas idas e vindas, sem perceber, fui aceitando como meu, os novos pedaços que me chegavam envolvidos no calor das novas amizades e experiências. Pedaços que antes navegavam nas águas, esperando para serem finalmente aderidos.
Hoje guardo saudade daquele lugar onde aprendi a construir uma ponte ainda mais sólida entre o que sou e o que ainda serei.
AL/2006
Partimos sabendo apenas que viveríamos em uma cidade pequena às margens do rio São Francisco, irmã de outra que se encontrava do outro lado nem tão oposto, separadas pelo rio, mas unidas por uma grande ponte.
Na bagagem muita angústia e medo do desconhecido além de móveis e utensílios, que demoraram o mesmo tempo que nós para se acomodarem ao novo espaço que lhes foi concedido. Tudo muito diferente da vida tida confortável e novidadeira de uma capital.
A nova morada era na esquina mais movimentada do bairro e logo tivemos de perfilhar e acolher todos os ruídos que adentravam pelas tantas janelas de madeira protegidas com grades rendadas, disfarçando a visão das coisas prosaicas que desfilavam do lado de fora.
Os quartos eram todos eles interligados por grandes portas duplas guardando a intimidade, mas não separando totalmente os vínculos. Isso nos confortava durante a noite densa e abrasadora.
Sequer tivemos muitos dias para disfarçar a realidade como se fora apenas uma nova brincadeira. O colégio esperava-me do outro lado do rio com seus pátios frios e inibidores para que eu fosse exibida sem nenhum pudor.
O único prazer nas madrugadas pouco frescas era, a caminho do colégio, atravessar a sólida ponte partidária com o sol ainda sonolento e o céu pintado em vários tons alaranjados que cintilavam nas águas calmas e bucólicas do rio.
A cidade vizinha parecia ser mais bonita e atraente certamente por estar a pouca distância dos olhos e do coração, e ter as margens sempre claras e expostas.
Na volta de um dia desgastante por tantos ajustamentos, novamente era a ponte que me confortava ensinando-me o valor das trocas possíveis entre vidas diferentes e visivelmente separadas.
Depois de muitas idas e vindas, sem perceber, fui aceitando como meu, os novos pedaços que me chegavam envolvidos no calor das novas amizades e experiências. Pedaços que antes navegavam nas águas, esperando para serem finalmente aderidos.
Hoje guardo saudade daquele lugar onde aprendi a construir uma ponte ainda mais sólida entre o que sou e o que ainda serei.
AL/2006