Intimidad

En aquel espacio parco
Donde la intimidad aflora
Risa y lagrima no disfrazo
En el instante que vigora
Dando vuelta en las palabras
Una danza principia
En compás tan intenso
Que siquiera se que pienso
Vienen y explotan sentimientos
De un canto combinado
Y lo que antes era poco
Siquiera cabe pedazo
Vive entero donde encuentra
Otras almas que abrazo

AL/2009

Mahler - Adagietto

Infinito

O infinito é nublado
E o acaso nem ligou
O fim de toda estória
Só o tempo debulhou
Muda o vento e a vida vai
Solta, nunca mais voltou
Céu de nuvens anuncia
Longe é tudo que ficou

AL/2010

Mark Pinkus - Sauna

Fuxico

 
Os dias iam tecidos
De vida que se pregou
A noite caiu soturna
Trazendo de um novo ardor
As chamas que se alastraram
Fez das cinzas outra estória
Da morte também se vive
Nau errante meu caminho
É só de águas
AL/2010
Bach - Preludio N°1

A ceia

Nunca vi mesa tão farta. Tinha comida que nem sei nome. Coisa estranha misturada dá um gosto bem distante de um tudo que não conheço.
Acordei foi bem cedinho como ordena a patroa e na cozinha entrei sozinha com a lua ainda acesa. Comi do pão dormido mergulhado no copo de café quente e doce. Esse gosto vem comigo lá da roça e dá saudade...
O sol enfim nasceu e o moço quitandeiro com um monte de esquisitice apareceu. Fui fazendo o que mandavam sem nenhum perguntamento. Vinha gente de bem longe comer com a família e a patroa tava doida que só vendo.
Lá na roça não tem data de festejo. Nem Natal, aniversário, o ano fica velho e fica novo mas o resto fica igual. Dia nasce e vai embora sem ao menos um sinal. Mas aqui tudinho é festa e aquele esbanjamento. E o povo ri do nada. Eu pra rir sou é difícil ! Não entendo dessas graças.
Ajudei a cozinheira, preta velha sem idade, a cortar, lavar, fritar e mexer os seus quitutes sem provar de quase nada. Foi o dia inteirinho preparando aquela ceia. Deu até pra enjoar só de ver tanta fartura. Nem que fosse comitiva, batalhão de retirantes, dava conta de acabar com esse tanto cozinhado.
Na salão mais importante tinha um troço engraçado, um pé de presente, uma árvore sem semente. Nunca vi plantada não. Enfeitaram as folhas dela com bolinhas espelhadas, algodão e lapadinhas que piscavam animadas. Em baixo tinha um presépio de bonecos arrumados com o menino Jesus deitado em berço raso. O resto era pacote de tudo que era tamanho embrulhado de papel estampado e laço de fita.
Na mesa coberta de luxo, pratos, copos e talheres luziam combinados. A toalha engomada enfeitava orgulhosa sem mexer um fio sequer. E o povo aqui da casa parecia essa gente de revista.
Na horinha ensaiada chegaram os convidados cada qual mais elegante. Um deles me deu por viva e piscou com olho arisco. Sai corada e morta de vergonha e de feitiço.
Servi a mesa umas vezes com a cara escondida. Só dava mesmo pra ver o caminho da comida.
Depois de tudo findado deitei na rede esticada defronte da janela do quartinho onde escondo meu mundo.Vi um monte de estrelas caindo pra todo lado. Uma delas caiu na rede, no meu coração cansado. Encheu ele de brilho, colou o lado quebrado. Dormi sono sonhado.
Natal assim nunca tive...
E aquela estrela preguei no pé de presente.

AL/2010

Alegria

Rio de risos
Largos traços refletidos
Claros sentimentos
Estampados de amor
Mil sorrisos
Despejados na torrente
Desaguando em mar
De pura felicidade
Preenchendo o coração
Sedento da beleza
Que o infinito conhece

 AL/2009

Villa Lobos - Suíte Floral: Alegria na horta

Sanguessuga


Sangue suga o coração
Escorre quente
Corpo crente
Em água doce
Não estanca
Circula livre
Amor e vida

AL/2010

F. Schubert - Sonata "Arpeggioni", D821

Resisto


Ante o que temi incerto
Falso, consagro o sem nexo
Ético de fundo in mundo
Caro sem valor raro
Resisto e peco
E nem sei lutar
Contra o mal certo
Verdadeiro, reprovo o nexo
Imoral com fundamento
Raro, barato e pobre

 AL/2008

 Josef Suk - Piano Trio in C minor, Op.2